Um distrito localizado a cerca de 20 quilômetros de Maringá, no Noroeste do Paraná, se destaca por abrigar uma das águas minerais mais incomuns do país. Em Água Boa, pertencente ao município de Paiçandu, a água que chega às torneiras dos moradores contém vanádio, um elemento químico raro em fontes naturais e com potencial uso medicinal.
Segundo a Prefeitura de Paiçandu, a água da região é extraída de poços profundos com alta concentração de vanádio, um elemento químico raro em águas naturais. Em todo o Brasil, há registro de apenas quatro fontes com presença semelhante do mineral.
A descoberta aconteceu em 2007, de forma acidental. O agricultor Leoese Aparecido Furunchi, conhecido como “Pena”, perfurava um poço artesiano em sua propriedade quando notou que a água tinha sabor mais leve e agradável. Uma análise química confirmou: além da leveza, a água possuía 0,022 miligramas por litro de vanádio, além de outros minerais benéficos.
Hoje, essa água abastece toda a comunidade e também é utilizada para irrigação, abastecimento de uma prainha artificial e uso cotidiano. A qualidade do recurso é garantida pela combinação dos aquíferos Guarani e Serra Geral, que cruzam a região.
O que é o vanádio e quais os benefícios?
O vanádio é um metal traço, ou seja, está presente em pequenas quantidades na natureza, geralmente em rochas ou minérios. Em águas minerais, ele aparece em concentrações muito baixas, o que torna o caso de Água Boa uma raridade geológica.
Em entrevista ao Portal GMC Online, o professor Oscar de Oliveira Santos Junior, do Departamento de Química da Universidade Estadual de Maringá (UEM), explicou que o vanádio tem atraído atenção da comunidade científica pelos possíveis efeitos positivos no organismo humano:
“Há indícios de que ele participe do metabolismo da glicose e dos lipídios, simulando a ação da insulina, o que o torna objeto de estudo em pesquisas sobre diabetes. Ele também pode influenciar a formação de ossos e dentes, e modular reações de oxidação-redução no organismo, o que gera interesse em sua possível atuação como antioxidante”, afirmou o professor
Contudo, ele reforça que não há consenso científico sobre os efeitos do vanádio no corpo humano.
“O vanádio é considerado um elemento potencialmente essencial, pois ainda faltam evidências científicas que comprovem seu papel biológico definido. Em pequenas quantidades, pode ter efeitos benéficos; mas, em excesso, pode ser tóxico, especialmente para os rins, fígado e sistema nervoso.”
Vanádio é mais um marcador geológico do que um nutriente
Segundo o professor da UEM, embora o vanádio esteja sendo estudado por suas possíveis aplicações na saúde, sua presença na água mineral de Água Boa é mais um reflexo das condições geológicas únicas da região.
“É muito raro encontrar concentrações de vanádio acima do normal em águas subterrâneas. A ocorrência em Água Boa aponta para características específicas do aquífero local, o que, por si só, já é motivo de estudo e atenção científica”, destacou.
Qual a diferença entre o vanádio e outros minerais na água?
O professor explicou que, enquanto minerais como cálcio, magnésio e flúor têm benefícios já comprovados à saúde, o vanádio ainda está em fase de investigação:
“Cálcio e magnésio são fundamentais para ossos, músculos e funcionamento do coração. O flúor ajuda na proteção dentária. Já o vanádio não tem ainda recomendação de ingestão diária definida por órgãos como a Anvisa ou a OMS.”
Apesar disso, ele aponta que pesquisas estão em andamento, especialmente por conta de estudos que associam o vanádio ao controle glicêmico: “Pesquisadores estão analisando como o vanádio pode simular o efeito da insulina e melhorar a sensibilidade do corpo à glicose. Isso pode ser útil para pacientes com diabetes tipo 2, mas ainda são necessários mais testes e padronizações para aplicação clínica.” GMConline
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