Família segue buscas por mulher desaparecida desde 2005 na região de Maringá


Nove de outubro de 2005. Esse foi o último dia em que Gislaine Ferreira da Silva Nascimento, hoje com 39 anos, esteve com a irmã, Graciane da Silva Bandeira, na época com 18 anos de idade, e que desapareceria no dia seguinte, em Paiçandu, onde morava com os pais e o irmão. “Me lembro dela no domingo do dia 9.

 Ela tomou banho e eu penteei os cabelos dela, pois ela não conseguia devido ao gesso no braço esquerdo por causa de um problema que ela tinha. Lembro que ajudei ela a calçar o calçado. Lembro que foi um almoço de domingo em família, todos rindo e felizes. 

Lembro que nessa noite ela assistiu na tv o filme ‘A era do gelo’, que se não me engano era a primeira vez que passava. Eu não estava lá de noite. Não morava mais com meus pais pois já era casada, mas sei que ela assistiu ao filme com minha mãe”, recorda. 

Na madrugada do dia 10 a família começou a viver uma angústia que ainda não acabou, quase 17 anos depois. A mãe de Gislaine e Graciane se levantou para se arrumar para ir trabalhar. Na época ela trabalhava em um frigorífico e entrava às 4 da manhã. 

“Então ela se arrumou, entrou no quarto e viu minha irmã dormindo. A Graciane estava dormindo no colchão, no chão, por causa do braço engessado. O médico engessou para evitar dela ficar mexendo o braço”, conta Gislaine. A mãe se arrumou e saiu. 

“O vizinho estava sentado como de costume na frente da casa dele. Minha mãe disse que ela sentiu algo que nunca tinha sentido. 

Quando viu ele lá na frente, teve um sentimento ruim e pensou ‘meu Deus estou indo trabalhar e esse camarada vai ficar aí na frente’. Gislaine conta que quando a mãe saiu o vizinho perguntou: “já vai, ‘tia’? e que ele a chamava assim pois quando se mudou para o bairro ainda era bem pequeno. 

“Daí ela disse que já ia sim e ele disse ‘oloko, que hora é agora’. E ela disse que eram quase 4. Então ela foi para a esquina onde uma van a pegava, bem próximo de casa”. Em seguida, o pai de Gislaine e Graciane saiu para ir trabalhar e também foi chamado pelo vizinho, que pediu emprestada uma folha de caderno. 

“Daí meu pai disse que iria ficar devendo pois estava atrasado”. Nesse dia, segundo Gislaine, Graciane e a mãe se encontrariam em Maringá, mas ao chegar no local e horário marcado, a filha não estava. 

 “Então minha mãe, inocente, pois não sabia ainda o que tinha acontecido, ligou na casa dessa vizinha e pediu se ela poderia chamar meu pai. 

Ela perguntou se ele tinha visto a ‘Gra’ e ele disse que não. Então minha mãe disse para ele procurá-la no hospital, pois ela poderia estar lá por causa do braço engessado. Nesse meio tempo, meu pai foi lá e minha mãe chegou em casa. Minha irmã não tinha passado no hospital, então minha mãe já se preocupou e ligou na casa da irmã da moça para quem Graciane trabalhava de babá para saber se ela estava por lá. Foi então que a moça disse que não tinha visto a Gra e que ela não tinha aparecido. 

Então minha mãe disse ‘algo aconteceu com a Gra’, pois ela nunca faltou aos nossos encontros e não é de sair e não avisar”, relata Gislaine. “A partir desse dia começou nosso pesadelo”, diz Gislaine. A família acionou a Polícia, mas, segundo Gislaine, eles disseram que só poderiam iniciar as buscas após 24h do desaparecimento. 

“De tanto ligarmos a polícia veio e minha mãe contou o que tinha acontecido”. A vizinha dos fundos disse à polícia que ouviu Graciane pedir socorro com gritos abafados e uma voz de homem dizendo ‘cala a boca e fica quieta se não te mato’.

 A vizinha, segundo Gislaine, chegou a ser ameaçada de morte pelo depoimento. Gislaine conta que a polícia chamou o vizinho com quem os pais haviam conversado na madrugada do desaparecimento e viu que ele estava com o olho roxo, como se tivesse sido acertado pelo gesso que Graciane usava. “Ele também estava com marcas de unha. 

O policial perguntou com quem ele brigou e ele disse que tinha separado uma briga no centro na cidade. O policial disse que as marcas que ele tinha eram de mulher, mas ele não disse mais nada e entrou na casa dele. O policial me disse que sabia que ele tinha feito algo com minha irmã, mas que não poderia prender e nem fazer nada”. 

 Na manhã do dia 11, a polícia científica foi até a casa em que Graciane morava com os pais e viu que tinha marcas no colchão, “como se alguém tivesse subido em cima da minha irmã para agarrá-la e também tinha marcas na janela e um líquido no cobertor dela, que era um produto usado para fazer a pessoa desmaiar”, relata Gislaine. Gislaine conta que se lembra de cada detalhe do desaparecimento da irmã. “De conversas, de lugares onde fizemos buscas, de pessoas solidarias que nos ajudaram. Se eu estivesse lá, teria morrido para defender ela”.

 Segundo Gislaine, após três meses do desaparecimento de Graciane, o vizinho foi embora. As buscas incansáveis Sem provas que pudessem levar a condenar alguém, a família iniciou uma jornada incessante de procura, de todas as formas que conseguiam. Passaram a receber várias denuncias e ligações anônimas, o que levou os familiares a acreditaram que Graciane pudesse ter sido vítima de tráfico de pessoas. 

“Foram várias denúncias sobre o desaparecimento que chegaram até nós e até mesmo na polícia, que levaram ao tráfico de mulheres. Também ouvi isso de uma delegada da Interpol [Organização Internacional de Polícia Criminal]”.

 “Soubemos por uma testemunha que o homem que a atacou pensou em matar ela, mas foi orientado pelo pai de que viva ela valeria muito mais então vendeu minha irmã”. 

Segundo Gislaine, não houve apoio policial, então ela e a família abraçaram a causa. Sempre que recebem uma pista ou uma informação, Gislaine dá um jeito de ir até o lugar, “seja com recursos próprios ou com a ajuda das pessoas, porque nem sempre eu tenho dinheiro na hora. 

E peço ajuda e até hoje, Graças a Deus, as pessoas têm sido solidárias”. Gislaine divulga a história da irmã nas redes sociais e já esteve até na televisão, no programa da Fátima Bernardes, em 2019, para falar sobre o desaparecimento de Graciane. “Onde tenho uma oportunidade estou lá para falar dela”, diz. GMConline

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